domingo, 14 de março de 2010

Louco por Chamamé

"Quem sabe fosse a morena uma estancieira buscando amor
Quem sabe ficou parada nesta fachada de domador"




Toda essa contradição as vezes me deixa a refletir. Chega a ser gritante, chega a ser inesperado. Toda a convicção, toda a liberdade, toda a mentalidade de hoje bate de frente coms os valores “comuns” de onde venho. E isso me faz pensar sobre determinismo. O ambiente realmente molda os valores, ou os valores que moldam o mundo? Me fale sobre as razões e os motivos. Me fale sobre a sua história e me deixe comparar com a minha.

Por mais que isso possa ser uma idealização de uma menininha mimada, é como eu vejo as coisas ao meu redor. Eu de certa forma venho de uma família tradicional. Desde pequena os cavalos, o gado e os valores da campanha me criaram. A fazenda me definiu. Definiu minha forma de agir, minha forma de pensar e com quem me relacionava. A própria base da tradição gaúcha. O vento no rosto e um trabalho a ser feito. Não pode se deixar por menos, se tem que ir até o fim. Cidade pequena, colégio tradicional, seguir os passos do pai e das irmãs. Amigas convencionais. Standard. Cabelo longo, castanho, roupas comuns e pensamentos alinhados. Alinhados?

Minha família. Comum. Três filhas, a obrigação de se ter diplomas e papéis. Uma preocupação pelo sucesso profissional e um silêncio no campo emocional. Leonhardt. Lionheart. Será? Uma tradição em frigoríficos e fazendas. De certa forma. Muitas histórias saudosas e um presente comum. Comum. Um vasto histórico de mentes abertas a novas tendência, por outro lado. “Tendências”. Creio que entendam.

“Já imaginava”, disse a minha mãe. Como poderia imaginar? Se mesmo eu não compreendo de todo de onde veio? Como pode uma menina que frequenta CTGs e ouve música tradicionalista ter uma namorada? Como? Como conciliar anos de uma tradição machista com pensamentos progressistas? E não me venha falando de masculinização, que quem me conhece sabe se tratar quase do oposto. “Já imaginava”. Baseado em que? Quais valores básicos em mim te fazem já imaginar? Se eu não imagino?

Mas bom. Nenhum tratado ou constituição nos obriga à linearidade. A contradição se faz presente nas melhores famílias. A contradição se faz presente na mente de cada um, e no incosnciente coletivo. Pessoas lineares me entediam. Quanto mais facetas, mais inesperado. Maior a surpresa. A linearidade me recende a um fractal. A pequena parte já define o todo. Uma palavra e já podemos traçar toda a personalidade.

E sim, esse post medíocre foi fruto de um domingo pela manhã ouvindo músicas gauchescas. A quanto tempo que não ouvia, a propósito. Levar uma namorada para a fazenda e fazer churrasco lá ainda me parece contraditório. Mas mesmo assim habita meus desejos. Me diga agora. Quais as suas contradições?

3 comentários:

Luana Ruck disse...

Um tanto desafiador tudo isso, mas desejos é algo que nos consome e nos faz ter mais vontade de realizar... ;)
Beijos querida.
Ótimo findi e não perca tua essência.

Edu disse...

Eu imaginava também, mas meio que porque você passava taaaaantos sinais...

Enfim, "singularidade". Fora de Lajeado você é mais uma, o que não falta é uma bela excessão.

Mas nem por isso, o que você vai encontrar de contraditório a própria cidade pequena, é incrível. Vendo de longe tudo parece comum, mas vendo de perto...

Mas não é a questão, certo? Como uma criação e crescimento tão "tradicionais" formam no fim pessoas tão diferentes do que essas tradições impoem?

Bom, vai do desejo, do agrado, dos relacionamentos de cada um.

Você, Ale, é como muitos que já conheci:
- Filhos de Hippies que vão pra faculdade e trabalham numa empresa
- Filhos de Punks tatuados que nem brinco tem e gostam de ouvir música clássica em seus ternos enquanto trabalham num escritorio de contabilidade.

São fora do comum, mas grandes pessoas, assim como você. Leve a namorada pra passear de mãos dadas em Lajeado e prepare o discurso pra entrevista no Informativo :p

mas larga de querer chamar tanta atenção com as historias, o attention freak, viva a vida e não viva de ficar dando bandeira, hehehe

beijão Ale

Cristaleo disse...

quando a gente conhece mais famílias, e mais uma, e mais outra, e ainda assim mais uma pela frente, percebe que não viemos de uma família convencional. nem um pouco. tradicionalista, talvez, mas convencional, nunca.

pense um pouco. esse "já sabia" vem dessa falta de convencionalidade.

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