domingo, 23 de maio de 2010

Born to be Wild


Get your motor running

Head out on the highway
Lookin' for adventure
In whatever comes our way





Deixe o relógio para trás, que os ponteiros marquem inutilmente minutos que voluntariamente haveremos de ignorar. Quem há de nos fazer cumprir tais responsabilidades vãs? Quem há de nos impor tais horários estabelecidos, convencionados, tediosos e cheios de um marasmo mecânico e pré moldado? Segure na minha mão, não sei o caminho, vamos aonde a estrada conduzir. O sonho de liberdade, fictícia ou talvez palpável, tenho certeza que compatilhas, só teme o desconhecido, mais fácil ser levada no ciclo contínuo e perfeitamente circular dessas doze, vinte e quatro, eternas horas. Brinca de cuido do meu próprio nariz e sigo meus próprios passos, sem perceber essa realidade previamente determinada que te entorpece até que lhe pareça a única realidade disponível. Essa liberdade comedida, emoldurada, pendurada na sala de estar para que impressione os amigos, todos iguais, cabelos longos, calças, ternos e vestidos, impressione com sua pretensa liberdade. A que sua rotina travesseiro-espelho-escova de dentes-café fraco-faculdade chata lhe permite. E não percebe, dentro desse caminho interminável, qual diversão de hamsters, que nenhuma liberdade sua não será previamente determinada, prevista, para que não lhe salte aos olhos o tédio opressor no qual se insere.

Por acaso já descobriu a velocidade máxima que conseguiria ir, sem sentir uma ponta de medo? E foi além, sentindo o medo que lhe gelava a espinha? Já sentiu o real medo? Aquele que lhe faz pensar daqui não passo, e se lembrou com uma ponta de alívio das mãos suadas e da rapidez de raciocínio? Me diga, antes de se sentar, já sentiu o vento acariciar os cabelos soltos e saber que toda responsabilidade não passa de convenção tola para agradar certos ternos e gravatas que não suportam em suas mãos todos os sonhos e todas as liberdades do mundo? O que é liberdade para ti? É tomar um caminho alternativo para os compromissos de sempre, de sempre, de sempre? É comer burger king e colocar na mtv em vez de um mcdonalds vendo jornal nacional? E tem medo, imagino, ou conseguiria suportar descer dessa segurança acolhedora, onde cada passo repete as pegadas de ontem e do dia anterior e do outro, conseguiria entender que sim, se tem vontades elas devem efetivamente ser concretizadas, será? Foi lá e fez. Fez? É capaz de fazer? Nem queria, mas o gostinho do novo lhe tentou mais que qualquer coisa. Assumiu o risco, assumiu todas as possibilidades, afinal era dona de seu próprio destino. Tal perspectiva te assusta, não? Não ter aquele relógio sempre a lhe dizer com segurança o próximo passo a ser dado, a próxima conhecida estrada a se seguir, com desvios estudados e seguros. Tudo tão seguro, tudo tão igual. E quando se lembra do dia que passou, consegue distinguir dos outros tantos dias tão completamente pré moldados que passaram antes dele?

Mas sei, sei bem, que sua idade, sua mãe, suas amigas todas com o mesmo sorriso e sem uma ponta de brilho no olhar, tudo isso lhe leva a tal liberdade comedida, protótipo de liberdade, ilusão de liberdade. Até seu cachorro, sempre correndo no mesmo pátio, sempre passeando pelas mesmas ruas e brincando com os mesmo brinquedos lhe leva a tal atitude rotineira, que depois de infinitos percusos até parece não ser tediosa. Fecha os olhos para a liberdade, talvez ela seja muito malvada, talvez ela seja muito complicada de se suportar. Talvez ela seja mais do que consegue suportar.

Ainda é tempo, senta na grama, experimenta o vento, e o sabor do desconhecido, experimenta jogar longe esses ponteiros cíclicos, experimenta, e isso basta. Ser capaz de experimentar talvez seja o primeiro passo adequado. Quero então que pule, se jogue, aja precipitada e inesperadamente. Mas isso deixamos para depois. Só dorme, ou dançe até os pés não mais aguentarem. Depois vemos no que pode dar. Viva. Te carrego comigo, sabe bem, ou pode vir a saber.

3 comentários:

Unknown disse...

Até mesmo a sensação de liberdade é manipulada: a grama foi plantada, as árvores foram plantadas e por mais que eu quebre o relógio o tempo continuará passando e o mundo nos cobrará os resultados não alcançados mediante o nosso 'tempo fora do mundo'. Sim, eu banalizo as coisas e me sinto 'aprisionada'. Mas...

Bise!

Ale Leonhardt disse...

Por que tu também não consegue ter liberdades senão fictícias

Sharla disse...

O tempo pode não parar mas pode, sim, ser ignorado. Há a liberdade utópica de um mochileiro, que não liga pro tempo nem lugar. Que não liga pra planos ou determinações. Ele apenas segue uma jornada pra lugar nenhum. Feliz com novas descobertas a cada dia. Essa liberdade eu invejo, e ainda viverei nela.

Infelizmente pra me libertar de tal modo, primeiro tenho correntes de responsabilidades monotonas a seguir. Mas um dia, como bom sonhador, serei um viajanta sem destino, livre do relógio.

ps: selo pra ti no meu blog. Bobo mas interessante pra quem quer tanto seguidoress :p

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