segunda-feira, 24 de maio de 2010

My Generation


Acordo com os olhos meio cansados, pronta para outra, para outra e mais uma depois. Quantas forem, e nenhuma satisfará. Busco a intensidade em cada fio de cabelo, em cada centímetro de parede nua, lavada, esquecida. Busco o inesquecível em cada cor que meus olhos que mal se abrem, que sofrem com uma dor de cabeça latente, uma ressaca velada, captam no quarto ao redor. Todas as festas iguais, todos os quartos iguais, todas as noites iguais, todas as pessoas iguais. Eu só mais uma dessas. Uns tons mudam, umas unhas mais longas, umas vozes mais finas, uns cabelos mais macios. Mas tudo me cansa, me cansa tão inegavelmente, me cansa e me faz querer me recolher para meu canto de unicórnios multicoloridos, flores inebriadas, bandeiras ensanguentadas e conselhos despropositados. Como meu quarto inóspito e negro e multicolorido me faz aconchegante nesses dias cansados, nesses dias de um arrependimento recorrente. Mas quanto tempo faz que não sinto a maciez de meus próprios cobertores?

Durmindo entre cabelos, peles, braços, costas, pernas. Não mais sei o caminho de minha própria casa, se duvidar, e o mundo me lembra aqueles caleidoscópios de criança. As imagem repetidas e repetidas, e só girar um pouco a cabeça ou a realidade, que de repente tudo assume uma outra condição de estar. Só girar um pouco a forma de ver. Mas nada realmente mudou, não é? E como são minhas próprias pernas, braços e peles? Me vejo em fotos, e meu cabelo não é mais meu, não entendo esse brilho estranho no olhar, e numa foto qualquer e desconhecida de uma alguém menos conhecido que deveria me reconheço. Não me reconheço. Sem identidade. Sem multicoloração, multitonalidade, multinacionalidade, multibanalidade.

Ou com todos os sonhos do mundo, escondidos bem fundos na sola do sapato, para que pise repetidamente até que se fundam e não mais precise encontrá-los. Não mais me abordem na rua e me intimem a repensar. Pensar. Descansar. Seguir e continuar. Outra e outra e outra e outra. Mais uma festa, mais uma dose, mais uma garrafa inteira e nada me é o suficiente, nada parece matar essa minha sede incurável, essa minha vontade insaciável de ter aquilo que não posso alcançar, de provar o que ninguém pode me dar. De preencher esse vazio qual buraco negro, que destrói os amores ao meu redor, sem sequer me dar o tempo de percebê-los. Que lentamente me destrói, começando da ponta da sobrancelha e percorrendo todo o frio na espinha. Esse frio na espinha, esse medo cruel de a noite acabar e não ter conseguido matar a sede, a vontade, não ter encontrado nada do que busquei por todos os cantos e gritei com todas as forças procurando. Todas as noites o mesmo frio na espinha. Os mesmos olhos me analisando, sabendo que busco em vão me reconhecer nos teus ou nos outros sorrisos, sem nunca conseguir ententer por que meu espelho me sorri torto com uma ironia cruel. E para tentar aquecer todas as vértebras e esquecer essas borboletas que de alguma forma misteriosa voam e se debatem na boca do estômago que não lembro mais da doçura de meus próprios travesseiros, da fofura dos meus unicórnios. Sequer lembro seus nomes loucos, que eles proprios se deram. Passo sempre por portas diferentes, durmo em camas de todos os tamanhos e todas as cores. E todas sempre iguais, todos os sorrisos sempre iguais, todos os abraços de a noite foi ótima, te ligo amanhã, sempre o mesmo me parecem. E nenhum me completa, nenhum até hoje me trouxe aquilo que há de preencher esse vazio que me sufoca. Ninguém ainda encontrou a cura pro meu vício de insistir nessa saudade de tudo que ainda não vi, se me permite aquele meu velho não conhecido comentar aqui.

Mas abro os olhos, pronta para outra, e virá outra e outra e quem sabe então mais uma ou duas. Não me canso apesar do cansaço mortal. Não paro, apesar do sono. Sei que aqueles olhos que todas as noites riem do meu medo ainda escondem por baixo de capas de sombras a bebida que finalmente haverá de matar essa minha sede excruciante, mortal. De me matar de sede, de matar minha sede. De me matar. A sede? Que sede?

0 comentários:

Postar um comentário