quarta-feira, 26 de maio de 2010

Broadway Rhythm Ballet


Não quero a música, não quero e não insista. Só quero pensar e pensar e cantar e dançar. Cantar as músicas mais loucas que me vierem à cabeça e dançar uma valsa burguesa, uma valsa proletária, uma valsa qualquer, com passos inventados e trôpegos. Uma valsa sobre a ponte, te pegar pela mão e sair correndo e cantando e valsando como dois loucos que finalmente encontram escondida no bolso a procurada sanidade. Para então atirar à água, ao ar e ao mar. Quero também, nessa lista interminável de coisas que mais que quero, preciso, te ligar no meia daquela madrugada bem fria de um inverno qualquer, ou que poderia ser nosso, e dizer te amo, e por mais que isso não te tenha nenhum significado, e talvez nem para mim tenha de verdade, te amo e sei que no meio dos sentimentos confusos essa certeza paira. Nem quero uma resposta, a simples respiração, tua simples presença ouvindo minhas palavras bêbadas já me seria o suficiente. E invariavelmente nunca voltaria a lhe falar, um oi ou um bom dia sequer.

E essa coçeira nos dedos que não me abandona, que não me deixa, que não sossega. Não me deixa tranquilizar e me dá essa necessidade constante de remoer e remoer e quem sabe enlouquecer, para não afundar tragado por meus próprios pensamentos lúcidos em demasia. Ponho nesse pretenso papel essas palavras hiperbólicas buscando me livrar de tais pensamentos sufocantes, embora doces. Sem saber por um instante que isso só me faz admitir que minha loucura não passa de escapatória dessa racionalidade, ou talvez sentimentalidade, brutal.

Mas de que me importam tais sanidades? A valsa ainda não me foi tocada, e ainda espero o primeiro passo. Mas só quero mesmo é pensar. Caminhando por essas vielas escuras, buscando ligações mirabolantes entre teus sorrisos falsos e a crise internacional. Buscando saber qual o toque frio das músicas que insiste em me fazer ouvir. Ouço minha própria melodia, entoada em harpas disformes, tocadas por anjos caídos. Também gostaria de voar. Como deve ser sentir o vento correndo pelos cabelos e ter a nítida impressão de que num sinples parar de bater asas em um segundo o que é talvez não mais seja? Também gostaria de cair, e com penas pretas poder percorrer esse longo e melancólico inverno, com a companhia de meus próprios bonecos de chumbo e valsas russas. Já te disse sobre como gostaria de dançar e valsar e brincar, à vista de todos, ou na quietude do quarto? Não, não me importo com essas suas músicas bobas, com esses seus problemas bobos. Só promete que me atende, a respiração do outro lado e então poder falar tudo aquilo que não falei no primeiro momento que pude, para friamente ver tudo se tranformando defronte a mim.

Mas sim, valse comigo, nós duas, se também acha que ao mar e ao ar deve ser lançada essa pura lucidez e sanidade que mais me sufoca oprime deprime. Não mais. Adoro um fingimento, um jogo, puro jogo, em uma madrugada qualquer. Não se preocupe, nunca ligarei, e esse meio sorriso meu, que reflete o teu sarcástico, poderá perdurar por mais uns invernos. Enquanto não descubro minha coragem esquecida, ou minhas penas escondidas.

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