quarta-feira, 2 de junho de 2010

Shout it Out Loud




Um eterno cinema, um filme qualquer, passou despercebido pelos olhos atentos. O melhor dos filmes, o mais alegre, o mais triste, completamente desimportante. Ver na primeira fila, para receber antes de todos essas imagens controversas, essas facetas multicoloridas. Sequer precisava ver, conhecendo de antemão todos os mínimos detalhes, todos os diálogos desse filme quase mudo. Nada pode ser dito, nada ouvido e muito menos entendido. Subentendido. Presumido. Iludido. Fantasiado ou desejado. A cada palavra dita uma série de possibilidades aniquiladas, sem a menor piedade ou compaixão. Pedidos constantes de desculpas pela quebra do silêncio. Sagrado Como que criminosa por querer, e sem que peçam, falar tudo o que lhe atormenta ou alegra na calada da madrugada.

Condenada por não querer jogar os mesmos jogos, julgada por crimes como sinceridade, carência, e sorrisos em demasia. Um filme mudo, regrado, sóbrio e quase triste, segundo o script. Mas sem diretor, tudo lhe parece tender mais para Kurosawa que Almodóvar. Ou nenhum deles. Queria que fosse a si mesma, mas a veemente recusa - ou talvez dificuldade - de diálogo dos atores com quem contracena se torna fator determinante para a nuances silenciosas. O silêncio contrastando com essa angústia por falr e até gritar tudo o que lhe percorre essa alma choacoalhada pelas ondas do mar e pelos amores terrenos. Esse filme que mais deveria ser uma festa e então se torna um retrato da loucura aprisionada em invólucros mudos.

Todo esse eterno teatrinho, implora por uma palavra sincera e somente lhe aparecem sorrisos condolescentes frente à necessidade de uma ou duas palavras de verdade. Esse mesmo teatrinho, e quando foge ao script bem escrito, bem pontuado, bem determinado, os silêncios predominam, oprimindo as sinceridades desejadas. Um eterno cinema. Hable con ella. E não pior ainda quando se conversa conversa, quando os teclados e ouvidos quase se cansam, e entretanto nada foi dito? Nada. E nenhuma possibilidade de se dizer algo. Invólucros e prateleiras cheias de silêncio e vazio. Hermeticamente fechados.

Não se deve libertar as palavras, pensamentos, loucuras e tudo o mais que se vê invariavelmente preso e enterrado. Pode isso afastar quem lhe é importante. E não é importante se por acaso acabe se afastando de sim mesma.

2 comentários:

Unknown disse...

"Não é estranho como temos liberdade pra falar de tudo com certas pessoas, menos das pessoas em si, que constituem o dialogo?"

esse post me lembrou demais a conversa de hj...

Ale Leonhardt disse...

definitivamente... e anda se tornando amedrontadoramente recorrente essas situações u.u infelizmente. diálogo é algo raro e caro u.u

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