terça-feira, 5 de outubro de 2010

Lions





Aquele fogo a consumia. Consumia suas sanidades, consumia suas forças. Consumia inteira. Viera repentino, lhe tomara por outra talvez. Sempre tão tímida, sempre tão focada, tão centrada. Se via dispersa, se via obcecada. Sentia na boca ávida o gosto doce do desejo. Lhe consumia inteira, não sossegava seu sono, não lhe despertava por inteiro. Se via em dias contínuos de um semi desperto olhar em volta, caminhar pelos mesmo locais de sempre. Sem realmente perceber as pedras onde pisava ou os olhares que cruzava. Sentindo os cheiros, percebendo os calores, conhecendo em cada pelo da nuca o mínimo sopro que como faísca lhe arrepiava um sem número de sensibilidades.

Obcecada por esse desejo que não sabia em palavra alguma, de língua alguma, expressar em completude. Sequer sabia dar nome, sequer sabia o que lhe deixava assim vagando em tardes ensolarads a procurar. A procurar o que mesmo? Queria talvez o calor, aquele calor que lhe parecia fundamental, que lhe queimaria não os dedos, mas as bordas da alma. Queria os cheiros, os gostos. Sabia quais? Todos, imaginava. Aquele gosto que lhe deixaria por dias sem sentir nada além. Gosto de vontade, de pele, de calor, gosto de tudo o que a queimava, ou só o gosto que sobra, de um nada específicamente doce. O cheiro de cobertas amanhecidas, de raiar do dia, de não durmir, cheiro de noite toda, cheiro de cansaço e cheiro de quero mais, cheiro de bom demais. Queria as unhas a marcar essa pele sempre muito bem cuidada demais, sentindo nessa quase violência, mesclada com essa delicadeza sutil, que então não mais há de se gorvernar, e quando souber descrever em palavras, ou simples sons e sorrisos e lembranças tudo o que lhe domina os pensamentos, aí então não haverá mais alternativa.

Mas não conhece, sequer imagina, deseja, certamente, mas por ora só caminha assim, vagando, com o sol a lhe acariciar as faces. E com aquele recém descoberto fogo a lhe consumir em devaneios de imagens e desejos, como lembraças do que ainda não foi.

1 comentários:

Unknown disse...

Eu não estranho mais as vezes (no caso, hoje) acordo com uma felicidade sem motivo. Isso é bom! =)

(abraçando)

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