domingo, 6 de junho de 2010

Open Your Eyes

A pata toca o chão com aquele conhecido som surdo. E nesse milissegundo nenhum som mais faz sentido. O som abafado, a suspensão do tempo. Uma pata ao chão, as outras no ar. Toda a velocidade possível. Aquele milissegundo. Os músculos todos retesados, com a máxima potência disponível. As pernas em seus ângulos mais belos, toda a força demosntrada. Naquele ínfimo momento. Os cabelos ao vento, e o vento acariciando com todo seu significado os centímetros disponíveis. As narinas dilatadas, em busca de mais oxigênio, para mais explosão, para mais potência, para mais velocidade. Para todos os músculos. E nenhum ocioso, todos mostrando a capacidade singular. Moldados e lapidados por gerações especialmente e unicamente para esse propósito. Para esse segundo. Os olhos qual gavião. Nenhum detalhe lhe escapa, na velocidade a atenção é de maior importância. Injetados de sangue. Não a estrada, mas as grandes estepes sob suas retinas. Não o desejo da mão que lhe governa, mas toda a liberdade que sabe que já teve, e que lhe é destinada. A corrida interminável. Reduzida ao momento mais ínfimo. Cada pêlo do seu corpo eriçado, atiçado, sentindo com exatidão o vento frio dos campos distantes. Sabendo exatamente qual o próximo músculo a contrair, o próximo movimento. O tempo como suspenso, enquanto aquela pata forte pisa esse chão endurecido. Embrutecido. Nenhum tempo. As partículas de terra que se elevaram à sua passagem paradas em algum ponto atrás de si. Todos os sentidos aguçados. Aquele momento. Suspenso. Estático. Ínfimo. Eterno.

E então a pata sai do chão, e tudo volta ao seu ritmo frenético e impiedoso. Tudo exatamente igual, exatamente veloz, exatamente intenso. Tudo igual.

A consciência nunca mais a mesma. Plena consciência.

1 comentários:

Unknown disse...

Eu gosto do som abafado do galope é como se algo ruim fosse deixado para trás e caisse sem volta.

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