domingo, 13 de junho de 2010


Querido


Te escrevo aqui, talvez sem a delicadeza necessária, e com certeza sem os toques macios e arrepios que desejava. Mas a necessidade de fazer a caneta percorrer esse papel virgem me impele determinantemente.

Me apaixono pelas palavras, pelos versos cantados, rimados, pelas conversas madrugada afora. Me apaixono pelas idéias, pelos olhos brilhantes. E essas futilidades para ti satisfazem minhas vontades indescritíveis, insubstituíveis. Quero amar a pessoa, não seu formato, seus cabelos, seus sorrisos. Quero um amor que alimente minha alma antes de alimentar meus desejos. Já tentou tal ousadia? Já sentiu tal necessidade?

Não quero as limitaçãos fúteis e levianas, não quero uma vida pautada por dogmas inescrutáveis. Linear. Previsível. Me atrai os pássaros, ou as feras selvagens. Desejo voar, cantar, experimentar das fontes mais limpas e das bebidas mais inebriantes. Quero saber qual a sensação do mundo ao meu redor, e todas as sensações em um só segundo. Quero ser vento, quero ser água. E assim escorrer pelo teu corpo todo, por todos os corpos. Sem distinções, me preocupando somente, no meu líquido estado, com os pensamentos que pairam e espiralam na nebulosa essência. Quero tanto. Quero tudo.
Quero eu mesma, e quero todos ao meu redor. Quero conhecer cada centímetro da minha pele não tão lisa nem tão nova nem tão inocente. E principalmente quero saber que dentro, bem dentro carrego comigo muitas palavras, muitos livros e livros. Rascunhados, mal escritos, quem se importa. Nenhuma folha em branco, por mais linda que seja, pode amar sem culpa, sem limites, sem regras e sem preconceitos. E sim, meus livros rasgados, sujos, mas cheios daquelas histórias fantásticas, alucinadas e que ouvíamos antes de durmir, daquelas histórias únicas, esses sim podem amar. Amar só por amar, sem distinção. Amar quem lhes sacia essa sede interminável de tudo o que se pode e até o que se não pode ter e fazer. Ter memórias, ter idéias. Fazer o que quiser. E se quer tudo.

Sem a delicadeza aveludada das manhãs de primavera, mas com a acidez cruel dessas palavras brandas, tenho que te falar que meu prazer não é simples nem linear, minha fome não é concreta, meus pensamentos não são possíveis. E meus amores não são compreensíveis. Te amo. Ou te odeio. Ainda não sei bem, ainda não decidi.



Porto Alegre, um dia qualquer, o nosso ano.

2 comentários:

Unknown disse...

O sabor das paixões indecivas são indescritíveis.

Sharla disse...

Sendo a grande [pequena :p] pessoa que tu é, tu só pode conseguir grandes sensações, desejos maiores ainda e, dentro de ti, certamente tem uma biblioteca sem fim.

Tenta e conquista tudo que puder e desejar. Pois alem de ser capaz, tu merece, pelo simples fato de desejar tanto..desejar tudo. E boa sorte :)

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