domingo, 5 de setembro de 2010

Just Like a Woman












Ah, you fake just like a woman, yes, you do

You make love just like a woman, yes, you do
Then you ache just like a woman
But you break just like a little girl.

Meus pés pisando o chão, ecoando esses passos incertos em meus ouvidos cansados. Cansados dessa mesma paisagem de sempre. Pareço reconhecer cada pedra dessa viela mais escura do que de costume. Nunca passei por aqui. Nunca estive aqui. Em nenhum desses lugares, e até o ar me parece tocar estranho. Me acaricia assim tão de leve. Me deixo levar, deixo meus cabelos escorrerem pelos ombros, pelas costas, cobrindo meu sorriso e meus medos. Será que conheço esse lugar? Me parece tão ameaçador, e ao mesmo tempo me recende à margaridas e tortas de maçã. Tão escuro, gostaria de poder correr, gostaria de poder fugir, voltar para meus travesseiros quentes, meu próprio mundo. Onde sei cada detalhe, onde as paredes são tão imaculadamente brancas e as memórias tão extremamente nítidas.

Me deixo levar. A noite escura me faz temer mais o amanhecer. Do que me lembrarei? Talvez não queira durmir. Talvez somente caminhar, fugir da luz, me manter nessas sombras acolhedoras.

Ontem acordei, meu banho gelado espantou os fantasmas da noite, e meu batom tão vermelho demais me fez forte, me fez feroz, me fez ousada. As unhas sempre impecavelmente vermelhas servindo mais para me convencer de minha própria mentira que para refletir uma pretensa realidade. Servem bastante bem para segurar esse whisky que nem sequer sinto mais o gosto. Diluído em minhas próprias lágrimas. Manchando essa maquiagem francesa, que todas as manhãs me faz acreditar que não envelheci um segundo nem perdi nenhum traço de beleza. Mostrando as presas para o próprio espelho, e no meu canto escuro cantando Bob Dylan para espantar as angústias que dia após dia estragam meus vinhos e afogam meus sorrisos. Continuo assim, saindo desse quarto tão quente como se pudesse viver sob a mais forte chuva de inverno, desafio com esse olhar petulante, me mostro forte para quem estiver olhando, nem que de relance. E então volto, exausta, e meus cobertores são testemunhas dos meus calafrios e tremores mais essenciais.

Tenho certeza que já conheço essa viela, mas posso estar enganada. Não será nenhuma surpresa afinal. Tudo é tão diferente, mas deixar o vento percorrer os cabelos e pelos e braços e costas me parece agradável. Me deixo assim, seguindo esses passos que não sei se sou mesmo eu pisando. Esperando pela próxima canção, pela próxima dose, pela próxima história, e, com sorte, pelo próximo sorriso. Quem quer que seja que me indicou esse caminho tão escuro demais, só me assegure que no fim me abraça e finge não sentir minhas lágrimas preenchendo o silêncio da noite. Um dia prometo explicar.

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